As intervenções do Rubens Mano me surpreendem, até mesmo
quando já sei que serei surpreendida.
Para intervir no centro de São Paulo, lugar já tão carregado de história e afetividade, Mano apela para a grande escala, ainda assim sem deixar de ser sutil.
O artista nunca perde a ironia em relação àqueles que o convidam a expor. Na Bienal
com entrada paga, abriu passagem gratuita; na galeria Milan, disse que artista
sem galeria é artista morto, enquanto que artista bom para a galeria trabalhar é
artista morto; agora, na Casa da Imagem, fez com que a prefeitura contratasse
os mesmos empilhadores que foram prejudicados por ela durante a remoção das
caixas de madeira no CEASA no início de 2012, evento documentado pelo artista e mostrado de modo a expor a violência de tal ação (sem que, contanto, tenha um tom de denúncia).
Contratando os empilhadores, Mano projetou uma barragem no
Beco do Pinto, uma passagem que levava à antiga zona cerealista de São Paulo (e
aí traça-se uma relação direta com o CEASA), já historicamente fechada. Sendo ela
tão monumental, apenas evidencia tal interrupção, não a que o artista produz, mas
sim aquela que sempre existiu.
A barragem é composta por caixas de madeira como módulo estrutural, sendo que de frente parece um muro e de cima parece um cubo, e que
invade as outras exposições do museu. A obra não é o produto finalizado mas sim a demonstração de um processo e o convite para a percepção das relações que estabelecemos com os espaços.
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