quinta-feira, 8 de novembro de 2012

No Meio do Vão - Carlos Fajardo


Um labirinto espelhado e transparente à la Dan Graham, só que mais simples (e nem por isso menos interessante). A mimese da parede com o chão transparente. Confusão. O que eu vejo está em frente ou atrás de mim? Será que vou trombar com alguém no caminho?
O tipo de obra que não só dialoga como também é arquitetura, e que só se realiza enquanto tal quando há alguém ali para vivenciá-la já está virando um clássico dos nossos tempos. Ainda bem!


O SESC Belenzinho é um ambiente propício para o despertar da curiosidade. Discreto, frente ao tamanho do átrio do edifício, o trabalho exige que haja uma tomada de iniciativa para investigá-lo. O próprio piso de vido que deixa ver a piscina do andar inferior já seria motivo suficiente para investigação. Com o labirinto de Carlos Fajado, o motivo é maior ainda. No meio da estrutura metálica, há espelho, vidro ou passagem? Vá e descubra.


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Bienal para alem do pavilhão

Somos colônia
Somos rurais
Somos o contato com a natureza
Somos o sofrimento escrito na pedra
Somos a vivência pendurada numa árvore
Somos simples
Somos rústicos
Somos a aleatoriedade da tinta jogada por um homem vestido de tartaruga
Somos brasileiros



Usar espaços como a Casa do Bandeirante como suporte para instalações artísticas deveria ser uma regra, e não uma exceção.
Simulação de colonização e natureza tropical no ambiente bandeirista que é a própria simulacro personificado da história da cidade.
Quando fui ainda não havia folhetos ou placas informando quem eram os artistas que estavam expondo ali. Ruim para eles, mas bom para o público, que pode experimentar a exposição sem nenhuma informação que induza a certas percepções ou comportamentos: seja livre e vivencie o que está ali.

domingo, 28 de outubro de 2012

A iminência das poéticas


Será possível ser ao mesmo tempo a maior exposição de artes do Brasil (talvez da América Latina) e ser sutil? A trigésima Bienal prova que sim.
Sem artistas-celebridade ou obras chamativas pelo seu tamanho ou por tratar de temas polêmicos (dos quais a 29ª bienal estava repleta), o minimalismo reina. Sutileza após sutileza, o visitante deve ser curioso e estar aberto à investigação, pois poucas obras gritam para chamar a atenção
Foi corajoso o curador Luiz Péres-Oramas, por fugir do espetáculo sem perder a grandiosidade, que é inerente à mostra. Também por não ter um tema fechado, pois aí cabe ao visitante identificar a linguagem ou a temática comum entre as obras que, ainda que eu não consiga verbalizar, está bem claro na minha cabeça que ela existe. Aliás, é imensurável o quanto sou agradecida por serem pequenas e praticamente invisíveis as placas indicativas com titulo e ficha técnica das obras. O que tem que chamar atenção é a obra, o resto é detalhe. É uma bienal propositiva, e não explicativa. Grandiosidade minimalista. Isso dá no que pensar.


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Lygia Clark no Itau Cultural

O Itau Cultural está apresentando uma retrospectiva do trabalho de Lygia Clark. Posto que o seu trabalho muitas vezes propunha vivenciaçōes, numa dinâmica que fazia as pessoas se relacionarem, me pergunto até que ponto a instituição cultural é capaz de promover isso.
Digo isso porque, em um ambiente tão regrado, ao chegar e me deparar com as Obras Moles, não tenho certeza se posso manuseá-las, ainda que este seja o meu impulso. Tenho que perguntar. Posso? Pronto, é só alegria. Após quebrada a barreira da intocabilidade, passa-se a querer manusear tudo. Principalmente os Bichos, e porque não? Ao aproximar a mão, logo sou abordada por um segurança. "não pode tocar!". De fato, havia uma faixa no chão, mas quem realmente repara nelas?
O incômodo de ter que ficar o tempo todo atento às regras da instituição passa a ser maior que o desfrute da experiência artística.
Sem contar que, às vezes, o fato de se poder manusear uma obra é transformado em um espetáculo desnecessário. Monitores são colocados a postos para te abordar e dizer: "pode mexer se quiser, viu?" "tem que fazer fila pra entrar aqui, só pode um por vez".
Será que realmente era essa diversão regrada que a Lygia Clark estava propondo? O limite da instituição é mais que evidente, e não sei se existe alguma forma de contornar este problema por completo, já que existe a responsabilidade de assegurar a integridade física das obras (acaba por se sacrificar a integridade 'moral')
Afora isso, de fato as experiências sensoriais são interessantes e estão asseguradas

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Thiago Carneiro de Cunha: esculturas

Foto por Marina Frúgoli
Venho estudando o trabalho de rubens Mano para tentar entender como a dimensão do tempo é inserida em suas obras. No caso, ela se insere através do movimento, não dos objetos, mas sim dos próprios indivíduos.
Thiago Carneiro de Cunha, de forma distinta, também insere a dimensão do tempo em suas esculturas. Por conterem velas constantemente acesas e frutas perecíveis, sabe-se que, em questão de dias, a obra já não estará igual a o que é hoje; as velas derretem, os alimentos se deterioram.
A presença do tempo que promove a lenta modificação das esculturas está implícita, tanto que não é preciso ver as tais mudanças para acreditarmos nela, não é necessário voltar outro dia para confer se de fato a escultura está diferente: sabemos que estará.
É interessante notar a velocidade destas mudanças, que, de tão devagar, não são visíveis durante uma visita. Não sei se é possível falar em esculturas cinéticas, dada a sua distinta escala de tempo, que, por sinal, combina com as figuras zen ali representadas, cheias de expressividade e simbologia.
A exposição está na Galeria Fortes Vilaça e fica até o dia 27.10.2012

domingo, 15 de julho de 2012

Vandalismo


É assim que a arte pública é recebida em São Paulo 
Bicicleta com rodas de espelho de Olafur Eliasson
Foto por mim

"Vaga" de Tatiana Blass




terça-feira, 10 de julho de 2012

Território de Contato - SESC Pompéia

 Nicolás Robbio

A exposição no SESC busca traçar paralelos entre trabalhos de artistas e de arquitetos. A segunda etapa, que acabou hoje (10 de julho), expôs conjuntamente obras do arquiteto Marcos Acayaba e do artista Nicolás Robbio.
Neste caso, o que une a arte e a arquitetura é o aspecto construtivo, e talvez técnico. Enquanto Acayaba aparece com representações do espaço, com fotografias e desenhos, e apenas uma maquete estrutural, é Robbio que de fato ocupa espacialmente a exposição. Seria isso um contrasenso? É exatamente aí que se traça a ligação.
Na obra de Acayaba, é evidente a relação das residências com o seu entorno, as casas de madeira que quase se mimetizam com as árvores. De certa forma, o trabalho de Robbio não só se mistura ao ambiente como é o próprio ambiente, pois são adições (projeções e construções), sendo indissociáveis do espaço em que se encontram.
Não tenho dúvidas de que as artes e a arquitetura estão no caminho de se encontrarem, e realmente é um assunto que deveria ser mais comentado e discutido, mas será que esta exposição realmente consegue demonstrar isso?

 Marcos Acayaba

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Zilvinas Kempinas - Galeria Leme


Dispersão, unidade. Mandalas feitas à mão que lembram mais a linguagem visual da computação. Matematicamente e minuciosamente confeccionados. A vontade é de compará-los, olhar e olhar repetidamente um a um. As mandalas dialogam com a circunferência do ventilador.
Não vale a pena aqui adotar um olhar científico para tentar entender como é a mecânica que faz duas rodelas de fita magnética flutuarem em 'Double O'. Deixe a sensação tomar conta. duas forças que se batem de frente. O ponto de encontro é caótico e resulta num movimento aleatório. Ainda assim, a tendência é a circunferência. 'Double O' dá movimento e maleabilidade à exposição, e é um contraponto à exatidão e sutileza das mandalas.
Infelizmente a exposição do lituano Zilvinas Kempinas acabou no dia 31 de março. E infelizmente, também, foi na Galeria Leme, que apesar de ter um espaço expositivo fantástico, projetado pelo Paulo Mendes da Rocha, com luz natural vinda do teto e tudo mais, parece um tanto quanto fechada para visitantes. Dá a impressão de que passa o dia de portas fechadas, só abrindo quando chega alguém para visitar. Ainda assim, há um funcionário que te assiste ver a exposição, tirando a sua possibilidade de ficar à vontade. É verdade que pára alguns isso pode ser uma abertura, pois há sempre alguém disponível para você conversar sobre a exposição. Mas, para os mais tímidos, isso passa a ser um elemento inibidor.

imagem retirada de http://galerialeme.com/expo/zilvinas-kempinas-3/

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Guerra e Paz

Dois painéis de 10 x 14 metros. Imperdível.
Neste trabalho de Portinari, é mais do que evidente que a sua arte é feita com o coração (perdão por ser clichê, mas não há outra forma de dizê-lo). Realmente, a experiência de visitar tais obras não permitem uma atitude racional, uma análise puramente formal ou historicista. Guerra e Paz emociona, e não há como conter isso. Dê tempo para si mesmo relacionar-se com a pintura, vendo-a de perto, de longe, no conjunto e em cada detalhe.

Sempre acabo impressionada em como o papel da curadoria influencia na percepção da obra. Nesse sentido, o espaço projetado pelo Oscar Niemeyer combinou bem com o porte dos painéis. Porém, a exposição faz uma tentativa de direcionar o olhar, com a exibição de um vídeo de aproximadamente 7 minutos que dá iluminação localizada a detalhes da tela, relacionando-os com os estudos e esboços feitos previamente por Portinari. Se, por um lado, é interessante estabelecer tal relação, por outro, não há tempo suficiente para a apreensão de tanta informação. Gosto de perder-me na vastidão e no excesso de informação, é uma condição inerente à obra. E o vídeo, que se propõe educativo, priva-nos desta experiência.
Talvez o que mais tenha me impressionado é que, depois da exibição do vídeo, as pessoas simplesmente foram embora. Sentiram-se elas satisfeitas? É uma pena que a cultura televisiva e
imediatista atinja a esfera das artes. Eu poderia ficar horas olhando Guerra e Paz, e ainda assim sentir que ainda não vi tudo.

Uma prévia das obras pode ser vista no site http://www.guerraepaz.org.br/#/home , mas nada se compara à experiência no local, principalmente por causa de sua escala monumental.
A exposição fica no Memorial da América Latina até 21 de abril de 2012