quinta-feira, 6 de junho de 2013

Reflexões

Ir na contramão do que esperam de você faz com que alguém seja mais artista? A relação ‘fazer para incomodar’ versus ‘aceitação do público’, as vezes apenas pelo fator beleza ou virtuosismo, tem solução? Porque se, de fato, a obra incomodar, pode ser que simplesmente não seja apropriado pelo mercado ou pelo sistema institucional de fomento à arte. E aí como sobrevive o artista? Ele levará a cabo as suas ideias até as ultimas consequências?

Alguns levam, e outros tantos vivem nesse dualismo de estar inserido e ao mesmo tempo criticar o sistema da arte, as vezes de uma forma um tanto quanto conturbada. Mas isso é ser artista: mover-se contra a inércia da vida, sair do estado de estagnação e conformismo. Ou será que essa é apenas uma ideia romantizada a respeito do mundo com a qual venho tentando me enganar?

domingo, 7 de abril de 2013

Corte e Retenção - Rubens Mano


As intervenções do Rubens Mano me surpreendem, até mesmo quando já sei que serei surpreendida.
Para intervir no centro de São Paulo, lugar já tão carregado de história e afetividade, Mano apela para a grande escala, ainda assim sem deixar de ser sutil. 
O artista nunca perde a ironia em relação àqueles que o convidam a expor. Na Bienal com entrada paga, abriu passagem gratuita; na galeria Milan, disse que artista sem galeria é artista morto, enquanto que artista bom para a galeria trabalhar é artista morto; agora, na Casa da Imagem, fez com que a prefeitura contratasse os mesmos empilhadores que foram prejudicados por ela durante a remoção das caixas de madeira no CEASA no início de 2012, evento documentado pelo artista e mostrado de modo a expor a violência de tal ação (sem que, contanto, tenha um tom de denúncia).
Contratando os empilhadores, Mano projetou uma barragem no Beco do Pinto, uma passagem que levava à antiga zona cerealista de São Paulo (e aí traça-se uma relação direta com o CEASA), já historicamente fechada. Sendo ela tão monumental, apenas evidencia tal interrupção, não a que o artista produz, mas sim aquela que sempre existiu.
A barragem é composta por caixas de madeira como módulo estrutural, sendo que de frente parece um muro e de cima parece um cubo, e que invade as outras exposições do museu. A obra não é o produto finalizado mas sim a demonstração de um processo e o convite para a percepção das relações que estabelecemos com os espaços.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

No Meio do Vão - Carlos Fajardo


Um labirinto espelhado e transparente à la Dan Graham, só que mais simples (e nem por isso menos interessante). A mimese da parede com o chão transparente. Confusão. O que eu vejo está em frente ou atrás de mim? Será que vou trombar com alguém no caminho?
O tipo de obra que não só dialoga como também é arquitetura, e que só se realiza enquanto tal quando há alguém ali para vivenciá-la já está virando um clássico dos nossos tempos. Ainda bem!


O SESC Belenzinho é um ambiente propício para o despertar da curiosidade. Discreto, frente ao tamanho do átrio do edifício, o trabalho exige que haja uma tomada de iniciativa para investigá-lo. O próprio piso de vido que deixa ver a piscina do andar inferior já seria motivo suficiente para investigação. Com o labirinto de Carlos Fajado, o motivo é maior ainda. No meio da estrutura metálica, há espelho, vidro ou passagem? Vá e descubra.


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Bienal para alem do pavilhão

Somos colônia
Somos rurais
Somos o contato com a natureza
Somos o sofrimento escrito na pedra
Somos a vivência pendurada numa árvore
Somos simples
Somos rústicos
Somos a aleatoriedade da tinta jogada por um homem vestido de tartaruga
Somos brasileiros



Usar espaços como a Casa do Bandeirante como suporte para instalações artísticas deveria ser uma regra, e não uma exceção.
Simulação de colonização e natureza tropical no ambiente bandeirista que é a própria simulacro personificado da história da cidade.
Quando fui ainda não havia folhetos ou placas informando quem eram os artistas que estavam expondo ali. Ruim para eles, mas bom para o público, que pode experimentar a exposição sem nenhuma informação que induza a certas percepções ou comportamentos: seja livre e vivencie o que está ali.

domingo, 28 de outubro de 2012

A iminência das poéticas


Será possível ser ao mesmo tempo a maior exposição de artes do Brasil (talvez da América Latina) e ser sutil? A trigésima Bienal prova que sim.
Sem artistas-celebridade ou obras chamativas pelo seu tamanho ou por tratar de temas polêmicos (dos quais a 29ª bienal estava repleta), o minimalismo reina. Sutileza após sutileza, o visitante deve ser curioso e estar aberto à investigação, pois poucas obras gritam para chamar a atenção
Foi corajoso o curador Luiz Péres-Oramas, por fugir do espetáculo sem perder a grandiosidade, que é inerente à mostra. Também por não ter um tema fechado, pois aí cabe ao visitante identificar a linguagem ou a temática comum entre as obras que, ainda que eu não consiga verbalizar, está bem claro na minha cabeça que ela existe. Aliás, é imensurável o quanto sou agradecida por serem pequenas e praticamente invisíveis as placas indicativas com titulo e ficha técnica das obras. O que tem que chamar atenção é a obra, o resto é detalhe. É uma bienal propositiva, e não explicativa. Grandiosidade minimalista. Isso dá no que pensar.


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Lygia Clark no Itau Cultural

O Itau Cultural está apresentando uma retrospectiva do trabalho de Lygia Clark. Posto que o seu trabalho muitas vezes propunha vivenciaçōes, numa dinâmica que fazia as pessoas se relacionarem, me pergunto até que ponto a instituição cultural é capaz de promover isso.
Digo isso porque, em um ambiente tão regrado, ao chegar e me deparar com as Obras Moles, não tenho certeza se posso manuseá-las, ainda que este seja o meu impulso. Tenho que perguntar. Posso? Pronto, é só alegria. Após quebrada a barreira da intocabilidade, passa-se a querer manusear tudo. Principalmente os Bichos, e porque não? Ao aproximar a mão, logo sou abordada por um segurança. "não pode tocar!". De fato, havia uma faixa no chão, mas quem realmente repara nelas?
O incômodo de ter que ficar o tempo todo atento às regras da instituição passa a ser maior que o desfrute da experiência artística.
Sem contar que, às vezes, o fato de se poder manusear uma obra é transformado em um espetáculo desnecessário. Monitores são colocados a postos para te abordar e dizer: "pode mexer se quiser, viu?" "tem que fazer fila pra entrar aqui, só pode um por vez".
Será que realmente era essa diversão regrada que a Lygia Clark estava propondo? O limite da instituição é mais que evidente, e não sei se existe alguma forma de contornar este problema por completo, já que existe a responsabilidade de assegurar a integridade física das obras (acaba por se sacrificar a integridade 'moral')
Afora isso, de fato as experiências sensoriais são interessantes e estão asseguradas

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Thiago Carneiro de Cunha: esculturas

Foto por Marina Frúgoli
Venho estudando o trabalho de rubens Mano para tentar entender como a dimensão do tempo é inserida em suas obras. No caso, ela se insere através do movimento, não dos objetos, mas sim dos próprios indivíduos.
Thiago Carneiro de Cunha, de forma distinta, também insere a dimensão do tempo em suas esculturas. Por conterem velas constantemente acesas e frutas perecíveis, sabe-se que, em questão de dias, a obra já não estará igual a o que é hoje; as velas derretem, os alimentos se deterioram.
A presença do tempo que promove a lenta modificação das esculturas está implícita, tanto que não é preciso ver as tais mudanças para acreditarmos nela, não é necessário voltar outro dia para confer se de fato a escultura está diferente: sabemos que estará.
É interessante notar a velocidade destas mudanças, que, de tão devagar, não são visíveis durante uma visita. Não sei se é possível falar em esculturas cinéticas, dada a sua distinta escala de tempo, que, por sinal, combina com as figuras zen ali representadas, cheias de expressividade e simbologia.
A exposição está na Galeria Fortes Vilaça e fica até o dia 27.10.2012